Montesquieu e o paradoxo do dono do carro: a felicidade não é um jogo de soma zero.

Todos buscamos a felicidade, só costumamos nos perdemos miseravelmente no caminho.

Poderia resumir todo o texto em somente uma afirmação: “Tudo o que estiver procurando, olhe para dentro de si mesmo”.

Mas eu sei que não costumamos aceitar isso, não podemos nos resignar com a ideia que para sermos felizes basta olha para dentro.

Como assim? Você pode estar questionando em forma de exclamação.

Eu entendo. Como não entenderia? Passei quatro décadas procurando a felicidade por todos os lados, em tantas coisas, em várias pessoas.

Seremos felizes quando tivermos dinheiro. Mas quanto dinheiro?

Então a felicidade é quando formos promovidos? Mas e a próxima promoção não fica já na vista?

Bom, seremos felizes então ao fazer aquela viagem internacional dos nossos sonhos? Mas e aqueles amigos que viajaram muito mais?

Assim está difícil. Então já sei, a felicidade baterá na nossa porta quando tivermos aquela casa incrível, o carro dos sonhos. Mas e aqueles amigos que aparecem com um carro ainda mais caro, e te convidam para jantar na casa que é o dobro da sua?

Mas então como ser felizes?

Já olhei para tudo isso, fui atrás de cada coisa onde me parecia residir a felicidade.

E ela? Ela quem? Ora, a felicidade! Teimava em se movimentar para algum lugar um pouco mais distante.

Felizes nossos pais, somente tinha como parâmetro de comparação os vizinhos, pessoas próximas, conhecidos. E nós que temos de conviver com as redes sociais? Hoje não nos comparamos somente com o vizinho, mas com bilionários, atores, modelos, atletas.

A competição acirrada nos distancia da felicidade, pois se vemos ela em lugares, pessoas, coisas, em todos elementos externos, sempre veremos alguém que parece mais feliz que nós, tem mais coisas, vive um estilo de vida mais luxuoso.

O que faremos então?

Montesquieu já havia antecipado o problema:

“Se bastasse querer ser feliz, isso seria fácil; mas queremos ser mais felizes que os outros, e isso é quase sempre difícil, pois acreditamos que os outros são mais felizes do que realmente são.”

Imagina então o que Montesquieu diria hoje, se vivesse a realidade das redes sociais.

Gosto de olha para trás, verificar a história, porque é impressionante o quanto tudo sobre o comportamento humano já foi dito.

A tecnologia avança, mas o comportamento humano se repete.

Como ele afirmou, tornamos complicada a felicidade, porque não olhamos para dentro, sequer nos conforta o que temos, o que já está em nossa vida. Ainda que o que vivemos nos deixe realmente felizes, não conseguimos admitir que seja tão simples, precisamos olhar para os outros, não basta ser feliz, tem que ser mais feliz, e de preferência, o mais feliz.

E há outro problema envolvido nesta competição, porque não vivemos a vida do outro, então não sabemos o que realmente ele sente, e assim, consideramos que os outros, por ter coisas que queremos, são extremamente felizes.

Cansamos de ouvir relatos de pessoas ricas e famosas que dizem que nada disso, nada do que tem, nada do que conquistaram, as tornaram felizes. Mas se conquistaram o que todos almejam, o que aconteceu?

Vamos pensar. Se eles já tem o que queremos, o que deu errado?

Se a felicidade está em todas estes elementos externos pelos quais competimos, carros, casas, dinheiro, viagens, fama, do que realmente deveria se tratar a felicidade?

Gosto de refletir sobre este ponto a partir do “paradoxo do dono do carro”, que ouvi de Morgan Housel.

Ele conta de uma experiência que teve como manobrista de carros, que lhe permitia na época, mesmo sem ter condições financeiras para isso, dirigir Ferraris e Lamborghinis. Ele conta de quanto sonhava em ter aqueles algum daqueles carros, pensando que eles mandavam um sinal claro de sucesso, indicando que o dono é inteligente, rico, tem bom gosto, é bem sucedido, é importante, e digno do olhar de todos, da admiração de todos.

Aqui o paradoxo segundo Morgan, pois ele disse que não pensava “Uau, o cara que dirige aquele carro é demais.” Em vez disso ele pensava: “Uau, se eu tivesse aquele carro, as pessoas achariam que eu sou demais.” Este é exatamente o paradoxo, pois as pessoas querem a riqueza para serem admiradas, amadas, respeitadas pelos outros, quando, na realidade, esses outros muitas vezes não admiram você, não porque não considerem sua riqueza admirável, mas porque tomam a sua riqueza como referência para o próprio desejo de serem admiradas, amadas e respeitadas.

E o mais curioso. Quando você mira em todas estas coisas externas, acredita que a conquista delas te trará respeito e admiração. Como vimos, as pessoas não estão te admirando, somente te usam como referência do que elas querem ter. E tem mais um ponto, normalmente a admiração e amor das pessoas que você realmente ama, com as quais você realmente se importa, não dependem de nenhum destes fatores externos.

O que acontece, muitas vezes, é exatamente o contrário. Você passa a vida perseguindo coisas, para ser admirado pelos outros, e isto te afasta daqueles que somente querem o seu amor, um tempo de qualidade com você.

Se considerarmos Montesquieu e Morgan Housel, juntando suas ideias, podemos ver que se nos deixarmos levar pelos fatores externos, jogamos um jogo infinito da infelicidade, porque conquistar coisas não trará o amor que queremos, e porque sempre veremos alguém que parece ser mais feliz.

Se a felicidade é ser amado por quem você ama, você não precisa dos elementos externos de validação.

E se a felicidade já está ao seu alcance, não basta ser feliz?

A felicidade não é um “jogo de soma zero”, onde para um ganhar o outro tem de perder.

Felicidade é um jogo de soma positiva, onde todos podem ganhar.

Jogue o seu jogo da felicidade.

Repito. Procure dentro de si.

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