Naval Ravikant e o Mito de Ícaro: Aspiração e Sucesso, quando a ordem dos fatores altera o produto.

Sucesso e Aspiração; ou Aspiração e Sucesso?

Talvez você pense “a ordem dos fatores não altera o produto”. Será mesmo?

Minha reflexão foi provocada ao ler um tweet no X, de Naval Ravikant:

The best thing about Elon Musk is that he makes me question if I’m thinking big enough with my life.

Tradução livre: A melhor coisa sobre Elon Musk é que ele me faz questionar se estou pensando grande o suficiente com a minha vida.

Mas a frase pode nos trazer outro problema. O que é pensar grande?

Pensar grande parece se referir a conquistas, ao futuro, a sucesso. Poderíamos então considerar que pensar grande é ter grandes objetivos de vida, para termos sucesso. E uma visão a partir do que nossa cultura indica, apontará para objetivos que nos tragam riqueza financeira.

Então pensar grande poderia se resumir a fixar objetivos que nos levem à riqueza, e portanto, ao sucesso.

Esta frase, ao menos para mim, representa muito bem a cultura que vivemos hoje.

Mas e onde entra aspiração? Até agora falamos de sucesso.

Se sucesso é a visão para o futuro, para a conquista de grande objetivos, para onde a aspiração está mirando? Vamos refletir sobre isso, pois como já alertei, talvez a ordem dos fatores altere o produto.

Vamos primeiro buscar alguma definição da palavra aspiração no dicionário.

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa: Aspiração: “Desejo veemente e sincero de atingir determinado objetivo.”

Então podemos conectar sucesso com aspiração. Se o sucesso é aquela visão que mira objetivos futuros, conforme parâmetros que encontramos na sociedade e cultura, com destaque evidente para a riqueza, podemos considerar que a aspiração é o combustível que nos move.

Aqui chego no ponto da reflexão.

O modelo que vimos acima é Sucesso e Aspiração.

Ou seja, primeiro o sucesso. Portanto, a medida para se ter sucesso é vinculado ao futuro e a fatores externos. Para ter sucesso se compara com padrões da sociedade, de riqueza principalmente, o que remete a uma competição, depende da comparação entre as pessoas.

Depois entra a aspiração, como o combustível, o desejo de atingir aquele sucesso, vencer na comparação com os outros. Neste caso, a aspiração acaba tendo como parâmetro o passado e fatores internos, sendo um olhar da pessoa para dentro de si mesma, e para o seu passado, olhando o que já viveu, quais competências possui, o que já conhece, pois busca um ambiente de certeza, está jogando um “jogo fechado” a partir de regras que lhe foram passadas.

Este modelo me remete a um livro de Seth Godin “A Ilusão de Ícaro”, quando ele aborda como o mito é apresentado.

Primeiro apresento o mito, resumido em um parágrafo, para quem não o conhece.

No mito de Ícaro, Daedalus, seu pai, um inventor brilhante, construiu asas de cera e penas para escapar do Rei Minos, que os havia aprisionado em Creta. Ele advertiu Ícaro para não voar muito alto, onde o calor do sol derreteria a cera, nem muito baixo, onde a umidade do mar pesaria suas asas. Contudo, fascinado pela liberdade e pela sensação de poder, Ícaro ignorou os avisos e voou em direção ao sol. Quando suas asas começaram a derreter, ele caiu no mar e se afogou.

A crítica de Godin é que, na sociedade moderna, muitas pessoas são ensinadas a “voar baixo” — a não se destacarem, a se conformarem e a seguirem regras que limitam seu potencial. Ele sugere que este aspecto da história é negligenciado como forma de controle social, incentivando a mediocridade e impedindo que as pessoas explorem seu verdadeiro potencial criativo e suas maiores ambições.

Godin usa essa metáfora para desafiar as pessoas a ignorarem o “mito de Ícaro” como uma chamada à conformidade e ao medo do fracasso. Ele defende que a verdadeira tragédia não é tentar e falhar, mas sim nunca tentar voar mais alto, restringindo-se às expectativas da sociedade e aos próprios medos. Essa leitura oferece um novo olhar sobre a ousadia, o risco e o potencial criativo, incentivando as pessoas a assumirem mais riscos criativos e não temerem o sucesso ou o fracasso.

O alerta de Godin no livro me gerou a reflexão de Sucesso e Aspiração. Pois sendo o sucesso dado por uma medida externa de comparação com os outros, e a aspiração uma medida interna que nos motiva mas nos aponta para nossos limites, buscando a certeza no caminho, temos que o sucesso é que abre caminho e a aspiração lhe dá suporte.

Se a aspiração busca certeza, é limitada por um conceito de sucesso que mede a pessoa pela comparação com os outros, temos uma corrida dentro de um labirinto, com caminhos pré-determinados, e não uma caminhada na vastidão do mundo.

Sucesso primeiro, e aspiração depois, subordinada, é ouvir o alerta para não voar perto do Sol, mas sem uma preocupação se vamos voar baixo demais e nos afogar na conformidade de ser igual a todo mundo e virar mais um, fazendo algo sem um propósito e significado maior.

Sempre ouvi que “prego que se destaca é martelado”, como um alerta de que podemos ter sucesso, mas dentro de alguns limites e regras, não podemos ter uma Aspiração que seja maior e preceda ao Sucesso, pois senão o aviso já foi dado, seremos martelados.

Agora vou inverter os fatores.

Aspiração e Sucesso.

Vamos agora pensar que a aspiração é um olhar para o futuro e fatores externos. Não pensei ainda em sucesso, vamos considerar ele como um elemento posterior em nossa fórmula.

Quando aspiração passa a ser um olhar para o futuro, ela passa a estar vinculada à nossa vontade de nos tornarmos uma versão melhor de nós mesmos, buscar nosso eu ideal. Neste ponto, ao mirar em um ideal a ser buscado, a aspiração se relaciona com propósito, uma visÃo de algo maior que nós que nos move, que serve como uma luz que iluminará nosso caminho, o norte da nossa bússola, indicando por onde seguir.

Mas considerei a aspiração, nesta versão, além de um olhar para o futuro, um olhar para fatores externos. Portanto, a aspiração não se trata mais de uma motivação a partir de um olhar para dentro, de segurança, buscando competências que já detenho, agora a aspiração ganha outro guia, a curiosidade, a busca pela inovação, por criar algo sem se preocupar com os padrões que a sociedade a a cultura já nos fornecem.

E o sucesso nesta versão em que ele vem depois da aspiração?

Nesta versão o sucesso passa a ser medido, este sim, olhando para o passado, para uma visão interna. Portanto, o sucesso deixa de ser medido pela competição, pela comparação com os outros, passa a ser uma medida pessoal, do quanto cada pessoa evoluiu dentro da sua própria jornada.

“You can’t connect the dots looking forward; you can only connect them looking backwards.” — Steve Jobs. Tradução livre: “Você não consegue conectar os pontos olhando para frente; você só consegue conectá-los olhando para trás.”

O futuro não é o melhor indicador para mensurar nosso sucesso, quando se considera que o sucesso deve ser medido internamente, a partir de nosso próprio desenvolvimento pessoal.

Neste caso, somente podemos “conectar os pontos olhando para trás”, precisamos medir o sucesso olhando do ponto presente para o passado, verificando o quanto já evoluímos, o quanto desenvolvemos nossos conhecimentos e habilidades.

Isto ficou muito claro para mim praticando triatlo. Qual minha medida de sucesso? Como olhar para o futuro? Não aconteceu ainda, não sei do que serei capaz. E como olhar para elementos externos? Mas me comparar com quem? Atletas profissionais, não faz sentido, mas mesmo atletas amadores, cada um tem uma idade, um físico, um histórico no esporte, a comparação externa se torna impossível. A medida do sucesso é muito clara adotando critérios de olhar para o passado e elementos internos. Consigo ver o avanço da minha performance pessoal ao longo dos anos, minha própria evolução, aqui tenho dados efetivos.

Você pode transportar isso para outras áreas da sua vida.

Outro reflexo desta visão de sucesso é que o aspecto financeiro não se mantém necessariamente primordial. Na regra da comparação externa é evidente a prevalência da medida pelo dinheiro. Mas quando você passa a adotar como sucesso seu próprio desenvolvimento, os parâmetros também são pessoais, e talvez você tenha valores diversos, que te levem a buscar a evolução em outras áreas, com prioridade sobre a área financeira.

Nesta versão, onde Aspiração precede o Sucesso, você não fica limitado pela comparação com os outros, nem a regras sociais e culturais, nem fica preso por uma ideia de segurança, que fará com que você queria ser o “prego que não se destaca” para não ser martelado. Nesta versão você apira algo maior, você esquece as necessidades, deixa de ter de atender o que te disseram, e passa a querer, a buscar o que faz sentido para você, aquilo que preenche a sua vida de significado.

Você ainda sabe que deve ter cuidado para não voar muito perto do sol, deve evitar a arrogância, mas agora sabe também que não deve voar tão baixo correndo o risco de se afogar, você não se limita mais pelo conformismo de uma vida automática que te colocou em uma rota única.

Você agora se permite voar livre, achar seus próprios caminhos.

Finalizando, volto ao tweet de Nava Ravikant:

A melhor coisa sobre Elon Musk é que ele me faz questionar se estou pensando grande o suficiente com a minha vida.

E você?

Está pensando grande o suficiente na sua vida?

Lembre-se.

Aspire primeiro, o sucesso será consequência.

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