Conectando os pontos: minha vida no discurso de Steve Jobs em Stanford.

A vida é mais sobre retrospectiva do que sobre perspectiva.

Mas o que isso significa?

Vamos assumir que a retrospectiva é nossa visão para o passado, quando repassamos e revivemos o que já aconteceu no passado.

E vamos assumir que perspectiva se trate de mesma visão, mas agora voltada para o futuro, desenhando o que se espera encontrar mais na frente.

A retrospectiva tem como objeto algo que realmente aconteceu na sua vida.

E a perspectiva? Ela está mais ligada a um desejo, um objetivo, mas não é algo vivido, é pode ser algo que nem será vivido.

Minha frase inicial não desmerece a importância de um olhar para o futuro, só digo que não é nossa vida, não aconteceu, e pode nem mesmo acontecer, e o olhar obsessivo nela, o planejamento em excesso, pode nos deslocar do presente e estar sempre esperando o que virá, e se afastar do presente é se afastar da experiência real, que é exatamente a vida.

E a perspectiva? Você pode considerar que por nos deslocar do presente também nos afastaria do presente, onde está nossa vida. Mas não é bem assim, porque o presente é vivido “juntando as peças” de todas nossas experiências, para nos capacitar a ter uma experiência de mais qualidade.

Vou ser mais objetivo.

A reflexão surgiu hoje, quando fui bater papo com a equipe do escritório de advocacia de amigas minhas, falando sobre minha experiência de carreira como advogado.

Ao relatar minhas experiências, relembrei de como atuei em áreas bem diversas do direito, atuei, dentre outras, nas áreas bancária, trabalhista, empresarial, títulos de crédito, tributária, me definia mais como um generalista do que um especialista.

Eu gostava de estudar e trabalhar com áreas diferentes, mas me sentia julgado, passando uma imagem de falta de foco, de estar perdido.

Além das diversas áreas, passei por escritórios diversos, ficando pouco tempo em alguns deles.

Tudo reforçava o julgamento dos outros de que eu poderia estar perdido, à deriva, como dizem, “atirando para todo lado”, e ainda que este possível julgamento me incomodasse, minha intuição continuava me movendo em frente, me colocando em áreas novas, em lugares diferentes.

Tudo parecia desconectado. Não conseguimos “ligar os pontos” olhando para frente, porque não sabemos o que há na frente, como eu disse, a perspectiva não é vida, não tem nada consolidado lá, somente expectativas, ou dúvidas, mas nada real.

O curioso é que eu mesmo me julguei, anos depois, sem perceber. Até que me dei conta.

Quando tive meu próprio escritório, nos últimos 10 anos de minha carreira, fui encarregado das contratações, e por diversas vezes, ao analisar currículos, verificava alguns candidatos que trabalhavam pouco tempo em cada lugar, que mudavam de área, e eu dizia para mim mesmo “Este candidato é desfocado, não sabe bem o que quer, e não consegue ficar em um lugar, acho que não é adequado”.

Eu estava julgando o candidato, ou a mim mesmo? Estava julgando meu passado?

Em dado momento me dei conta, que estava julgando candidatos que tinham uma trajetória muito parecida com a minha até eu ser dono de meu próprio escritório.

Eu não teria me contratado!

Veja só que ironia.

O que eu não percebia na época, é que alguns daqueles candidatos poderiam estar criando seus pontos que seriam conectados, a partir de um olhar retrospectivo.

O que quero dizer com isso? Vou voltar à minha própria história.

Nos últimos anos de minha carreira como advogado, atuei na área de direito de insolvência, e nesta área, minha formação multi área me deu um diferencial, me tornou um profissional mais qualificado, pois a atuação na área demandava muitos conhecimentos que construí ao longo da minha jornada, tais como direito tributário, trabalhista, bancário, empresarial, além de conhecimento em áreas diversas do direito, como economia, finanças e contabilidade, para mencionar algumas.

Steve Jobs tem um discurso icônico em Stanford, no qual fala exatamente sobre a ideia de “conectar os pontos”, no qual ele conta sobre sua experiência ao largar a faculdade e, eventualmente, se interessar por aulas de caligrafia, algo aparentemente sem importância prática na época. Mais tarde, quando ele e sua equipe estavam desenvolvendo o primeiro Mac, esse conhecimento sobre tipografia o ajudou a projetar fontes e espaçamentos que tornaram o design do computador mais sofisticado e bonito.

Esta é a história de Steve Jobs.

E a minha?

Também olhei para o passado e consegui conectar os pontos. Minha jornada “desfocada”, na verdade estava criando toda a base necessária para me tornar um profissional altamente qualificado no momento certo.

Eu construí deliberadamente este caminho? Não. Ele simplesmente foi acontecendo, eu somente fui respondendo de forma intuitiva.

Por isso que eu abri o texto dizendo que a vida é mais sobre retrospectiva do que sobre perspectiva.

Se eu tivesse tentado forçar um plano futuro, criando uma perspectiva muito alinhada e racional, provavelmente teria perdido a riqueza de toda a minha jornada, pois conscientemente buscaria evitar o julgamento que considerava negativo, teria tentado construir um caminho mais conectado, teria buscado me fixar em uma área, não ficar pulando de uma para a outra.

Se tivesse me forçado a viver em perspectiva teria perdido a riqueza dos conhecimentos que adquiri exatamente por conduzir o presente parecendo “perdido”.

Agora, devemos estar atentos à visão perspectiva, o fundamental é vivermos a experiência do presente, olhando para o que vivemos, e buscando a “conexão dos pontos”, que vai nos dar o diferencial competitivo que precisamos para encarar a vida hoje.

Confie na sua intuição e construa sua jornada de forma autêntica, planeje, mas não se torne obsessivo, entenda que não existe somente um caminho, não somos como trens que se movem sobre trilhos, somos mais como aves que podem voar para qualquer lado e em qualquer altura.

Viva o presente como se apresenta, de forma autêntica.

Revisite o que já viveu.

Conecte os pontos.

Destrave sue maior potencial.

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