Nossa busca moderna por conquistar o mundo pode somente estar nos afastando do que estamos procurando.
Estamos programados, cultural e socialmente, a buscar dinheiro, posição e poder, ou seja, buscar externamente tudo aquilo em termos materiais e de títulos que vai nos tornar respeitado pelas outras pessoas.
Nessa busca, temos em mente que sendo respeitados, vamos nos sentir completos, e afastar aquela sensação de vazio que teima em se instalar dentro de nós. Pensamos que o respeito das outras pessoas vai nos dar a validação para vencer aquelas vozes interiores que diminuem nosso valor e merecimento.
Acreditamos que ser vistos e respeitados provará nosso valor para nós mesmos, então ficaremos satisfeitos e sentiremos felicidade com a nossa vida.
A ideia de hoje parte de três fragmentos de pensamentos que anotei em minhas notas, em diferentes momentos, a partir de coisas que li ou ouvi.
Primeira ideia. Nós queremos subir muito, sem preparar uma fundação sólida e profunda.
Nós absorvemos tudo que nos dizem e partimos na jornada para conquistar o mundo, e assim o respeito das pessoas. Mas para isso já traçamos planos ousados, metas distantes, visualizamos onde queremos levar nossa carreira, quanto dinheiro queremos ganhar (engraçado que falamos ganhar no Brasil, enquanto nos Estados Unidos costumam usar o termo fazer “made money”, o que me remete a uma ideia mais clara de que deve haver esforço, mas só um pensamento aleatório aqui), quais as coisas queremos ter (carros, casas, etc).
Mas já partimos nesta viagem, apressados em conquistar o mundo, acreditando que o vazio que sentimos será preenchido, que as vozes internas de desaprovação serão silenciadas.
Mas a jornada começa com situações internas não resolvidas, ou seja, começamos a construir a torre de babel, mas esquecemos de trabalhar antes na fundação, nas bases deste crescimento.
Já conecto este ponto com a segunda ideia. Quando quiser procurar algo, procure sempre dentro de você.
Devemos mergulhar dentro de nós mesmos, nosso corpo, mente e alma são a fundação da torre que é nossa jornada nesta vida. O vazio, as vozes, todos estes estão dentro de nós, e devem se trabalhados exatamente neste campo de atuação, dentro de nós mesmos.
Temos de entender a fonte do vazio e das vozes, dando o grande mergulho dentro de nós, e para isso, temos de resistir ao medo implícito que temos de olhar para dentro e não gostar do que vemos, porque é exatamente assim, não somos perfeitos, estamos longe disso, veremos várias coisas indesejadas, mas são estas que temos de “consertar”.
Precisamos dialogar com nossas vozes internas, distanciados delas, sabendo que não são nós mesmos, mas somente um efeito racional de nossas emoções descontroladas. Devemos silenciaras vozes, ou ao menos fazer as pazes com ela, e somente este passo já começa a afastar a sensação de vazio.
E isso não se aplica somente para o começo de nossa jornada na vida, a todos os momentos da nossa vida, devemos sempre lembrar que toda busca deve ser um reflexo do que temos dentro de nós, nada que nos ofereçam no mundo exterior trará a mesma felicidade do que o que podemos encontrar dentro de nós mesmos, a nossa paz interior, pelo controle de nossas emoções e nossas vozes internas.
E já vou finalizando com a terceira ideia. Quem ainda não tem o sucesso financeiro tem um bônus, mas também um ônus, que aqueles que já são ricos financeiramente não tem mais.
O que quero dizer com isso? Quem ainda não tem sucesso financeiro, tem um suposto bônus, porque pode apaziguar eventual infelicidade depositando esperança no próximo degrau de sua vida financeira, será feliz quando ganhar o dobro, quando comprar o carro novo, quando se mudar para a casa de seus sonhos.
Mas este suposto bônus vem com um ônus, que é retardar a revelação de que toda busca deve ser interna, que deve se construir uma sólida fundação, e que toda felicidade depende de como nos sentimos internamente, desconectada do que conquistamos materialmente no mundo exterior.
E esta é a vantagem dos que já tem sucesso financeiro. Não, a vantagem deles não é o dinheiro, poder, fama, reconhecimento, posição social. A vantagem é que eles vão perdendo aquele suposto bônus, pois já tem a experiência de que se acostumam rapidamente com cada novo degrau de riqueza atingido, e que a felicidade que se busca externamente continua sempre se movendo mais para frente, portanto, eles já tem claro que a felicidade externa é inatingível, e percebem que a felicidade depende de uma busca interna.
Eu vivi exatamente isso.
Ainda jovem, advogado recem formado, cheio de medos interiores, vozes que me diziam que eu não era bom o suficiente, que me faziam ter de constantemente provar meu valor, sem resolver nada internamente, sem trabalhar estas vozes, fazer as pazes com elas, parti na minha jornada de conquistar o mundo, buscando a felicidade em todos os cantos onde imaginava ela pudesse estar.
Percorri durante 20 anos a felicidade, esta busca me fez ter todos aqueles elementos, dinheiro, reconhecimento, posição social, e ainda assim, a felicidade parecia distante, sempre se movia mais para frente, sempre havia um novo patamar de remuneração a conquistar, um novo modelo de carro, um apartamento maior, e nada disso era a linha de chegada.
Daí veio a revelação.
Viajei tão longe buscando a felicidade.
Foram 20 anos nesta viagem.
Para então deixar tudo para trás.
E descobrir que a felicidade sempre esteve dentro de mim.