Já falamos sobre o medo em outras cartas, mas volto a ele, pois é marcante o quanto condiciona nossos comportamentos, e ao fazer isso, comanda nossos resultados.
Vamos falar sobre o medo, mas também vamos falar sobre como vencer este medo, como exercer controle sobre ele.
Hoje comecei a fazer um novo curso online. Um novo curso talvez você se pergunte. Sim, eu entendo o valor do aprendizado constante, além de curtir o processo de ampliação de conhecimento, de verdade.
Leio muito, compro e assisto cursos (não é óbvio, pois muita gente compra e não assiste os cursos, por incrível que pareça, talvez você mesmo já tenha feito isso), ouço vários podcasts, enfim, são horas e horas de estudo.
Só livros já foram 27 livros lidos neste ano. E a carta vai começar exatamente por aqui, o quanto o medo condiciona minha leitura. Você acredita nisso?
Voltando ao curso, se trata exatamente de um método para organizar melhor a leitura, bem como auxiliar na síntese dos conteúdos e aprimorar o aprendizado.
Em um dado momento do curso, os professores expõem como classificam os livros, por tipo de leitura: entretenimento, consulta e aprofundamento.
Entretenimento seria aquela leitura por diversão. Aprofundamento, quando se trata de um assunto que não conhecemos, que justifica ler todo o livro para termos realmente ideia sobre aquela área.
Mas daí veio a terceira categoria: consulta. Esta seria daqueles livros de assuntos que já conhecemos, que já temos algum domínio, ou mesmo de autores que já lemos outros livros, e já estamos habituados com suas ideias. Portanto, estes livros, segundo os professores, não precisam ser lidos por completos, mas somente nas partes que efetivamente contribuir para ampliarmos nosso conhecimento.
E o mais engraçado (ao menos para mim) foi quando o professor disse que não há nenhum “fiscal da leitura” que aparecerá na nossa casa para nos cobrar pelo fato de pularmos páginas, por lermos só alguns pedaços de alguns livros.
Por que engraçado para mim? Porque me vi no que ele falou, parece que eu sinto o “fiscal da leitura” na minha casa, e tenho extrema dificuldade de não ler o livro por inteiro (até dedicatória, me julguem), pois parece que estou trapaceando se não ler o livro inteiro.
Como já disse, li 27 livros este ano. Inteiros! Me sentiria trapaceando se falasse que li 27 livros mas alguns eu tivesse pulado páginas, lido de forma incompleta.
Você pode estar me julgando, até rindo de mim. Sem problemas.
Mas o que quero é te ajudar de alguma forma. Pensa se você não faz coisas semelhantes, talvez com livros mesmo, ou com outras coisas. Vou te ajudar a refletir na sequência desta carta.
O que me move a agir assim é basicamente o medo, mas por facetas diversas. Pelo menos duas vamos falar aqui: Síndrome do Impostor, FOMO.
Comecemos pela Síndrome do Impostor, que se trata da sensação persistente de não merecer o sucesso ou as conquistas, levando a pessoa a acreditar que é uma fraude, mesmo quando há evidências claras de sua competência. Quem sofre com essa síndrome teme ser “descoberto” como inadequado ou incapaz, apesar de seu desempenho comprovado.
Este é um tipo de medo, normalmente decorrente de uma visão crítica muito alta, quando a pessoa se avalia de forma dura, a partir de altos padrões, sempre julgando estar abaixo deles, e temendo ser descoberta como incompetente.
Lembram do que falei lá em cima? Não me sentiria a vontade de falar que li 27 livros se não os li por completo, pois agir diferente me passaria a ideia de que estou trapaceando, de que estou propagando uma conquista que não obtive, pois meu alto padrão crítico diz que tenho de ter lido integralmente os livros.
Quando estou lendo livros, efetivamente existe um “fiscal da leitura” na minha casa, e ele é meu próprio pensamento, meu sabotador crítico, que está me vigiando, e que vai me punir com pensamentos negativos sobre mim mesmo se eu falhar no desafio de ler 100% do livro, pois este o padrão do meu super crítico interno.
Entre nós. Alguém vai ligar se eu disser que li 27 livros mas não os li integralmente? Ninguém liga, não tem qualquer relevância. Ninguém, exceto eu mesmo, e este é o pior julgador que podemos ter, nós mesmos, pois não há onde se esconder, sempre estamos com nós mesmos.
Vamos avançar e falar do FOMO (é um acrônimo do inglês, Fear Of Missing Out), que é o medo de estar se perdendo experiências, oportunidades ou eventos importantes que outros estão vivenciando, gerando ansiedade e um desejo constante de se manter conectado e atualizado.
Este é outro medo que certamente está lá no fundo de quem lê integralmente, sem pular nada, e certamente está presente em mim.
Qual o pensamento que surge neste sentido? “Se eu pular alguma parte, ali pode estar uma ideia que será de grande importância”. Viu como funciona? É o FOMO agindo, ou seja, o medo de perder algo que seja importante, neste caso, uma ideia para entender melhor o livro, ou mesmo uma ideia que possa ser levada na prática para a vida, que pudesse gerar alguma mudança positiva.
Uma aula somente me gerou estas reflexões, pois revelou um comportamento meu claramente impregnado por vieses comportamentais, que claramente tem o medo por trás de tudo.
Voltando ao que disse para iniciar esta carta. O medo estava “rodando em segundo plano” na minha mente, me conduzindo a comportamentos não funcionais, e me trazendo resultados inferiores ao que eu poderia obter.
Porque comportamentos não funcionais? Como eu já disse em outra carta, todo comportamento, todo hábito, deve ter uma função, ele tem de servir para atender alguma necessidade ou desejo nosso. Mas neste caso, ler cada vírgula do livro não tem função nenhuma, a não ser afastar o medo da Síndrome do Impostor, e o medo do FOMO.
Medo modelando comportamento e rebaixando resultados, pois obviamente que posso ler muito mais livros, aprender muito mais, obter mais conhecimento, no mesmo espaço de tempo, se abrir mão do comportamento irracional de esgotar cada palavra, cada vírgula, de cada livro.
Falei sobre um comportamento meu ao ler livros, e de como refleti após uma aula.
Mas você pode, a partir destas duas versões de medo, pensar no sua dia a dia, nos seus comportamentos.
O quanto a Síndrome do Impostor pode estar te atrapalhando? Gerando indevida insegurança e ansiedade nas suas ações e decisões, somente por te fazer sentir menos competente, menos merecedor. Você pode estar perdendo a oportunidade de uma promoção, ou de um novo negócio, somente por achar que não está pronto, que não é bom o suficiente.
E o FOMO, quanto pode estar te guiando? Comportamentos que você adota, decisões que você toma, que podem ter como origem somente um medo de ficar de fora, de não fazer parte. Muito comum no mercado financeiro, você pode estar perdendo dinheiro com ações que tenha comprado, porque amigos compraram, e você ficou com medo ser o único a não ganhar dinheiro com uma super valorização do preço destas ações.
O mais importante é você conhecer as diferentes facetas do medo, refletir sobre seus comportamentos, e se for o caso, corrigir seus hábitos, para que representem o que você realmente quer, garantindo que seus resultados sejam os que você deseja.
Quer saber como resolvi por aqui?
Depois que você conhece o inimigo é mais fácil de combater.
O importante é você fazer como eu fiz. Estar sempre em busca de falhas em seus comportamentos, identificar o inimigo, e derrotá-lo imediatamente.
Buscar, aprender e colocar em prática. Sempre e para tudo.
Eu hoje mesmo já corrigi o rumo, segui lendo ao longo do dia, e exatamente estava em um livro do tipo classificável como consulta. Minha leitura adotou a premissa de “dar alguns saltos” em temas já dominados por mim, e exemplos de cases empresariais repetidos, que já li em outros livros.
Simplesmente “demiti” meu sabotador crítico como “fiscal da leitura”, portanto a Síndrome do Impostor não me atinge mais. E quanto ao FOMO? Inverti o raciocínio, pois quanto mais demorar em um livro, menos livros leio, e portanto, as oportunidades estarão sendo perdidas é se eu atrasar em um livro, até porque compro em velocidade maior que consigo ler.
Entendeu?
O medo é uma constante, vamos seguir encontrando ele disfarçado em várias formas dentro da nossa mente.
Qual a nossa missão? Viver a nossa própria vida, sem ser comandada pelo medo?
Como fazemos isso?
Sempre buscando conhecimento, que nos permite identificar o medo escondido em formas de comportamento nosso.
Identificado o inimigo, encaramos de frente e achamos a solução para derrotá-lo.
Então podemos seguir em frente.
Hoje eu venci. Amanhã segue a luta.
E por aí?
Algum medo identificado?
Demita qualquer “fiscal do medo” que esteja no seu caminho.