Efeito manada: neurociência do “Não”, porque rejeição dói tanto.

Hoje somente estou começando a escrever a carta à tarde, agora é exatamente 15:26, e foi ótimo que não escrevi antes, pois um comentário que recebi no meu Linkedin deu contexto ao tema que eu já queria abordar.

Acompanha até o final que o tema vai te dar clareza sobre como você age, porque você não consegue evitar o “efeito manada”.

Para quem não está acostumado ao termo, “efeito manada” é aquela forma de agir das pessoas em geral (eu, você, todo mundo) seguindo a multidão, repetindo o que todos fazem, se amoldando ao ambiente, aos costumes da família, às atividades dos amigos, às preferências do seu par (namorado(a), marido, esposa).

O efeito manada é amplamente comprovado por pesquisas nas áreas de psicologia e neurociência, demonstrando que é uma característica humana seguir a multidão, seguir o coletivo, para se sentir incluído, pertencente.

Explicado brevemente efeito manada, voltemos ao comentário no meu linkedin.

Fiz um post nesta segunda-feira (19/08) falando sobre encerramento de ciclos, e colocando uma decisão minha, de vender apartamento próprio, passar a morar em apartamentos alugados mobiliados, menores, dentro de uma linha de minimalismo mesmo, viver bem, mas somente com aquilo que é essencial para mim, nem mais, nem menos.

Esta decisão me trouxe uma leveza que não experimentava a anos, pois vinha carregando o peso de um patrimônio que, analisando com calma, nem era um sonho meu, mas o atendimento a um sonho modelo coletivo.

Agora começamos a entrar mais fundo no tema.

Eu recebi um comentário hoje neste meu post, elogiando minha decisão por ser considerada difícil, ao descer de um padrão conquistado, para um padrão mais simples, e ressaltando que o motivo deveria ser algo muito forte.

E sabem que foi exatamente assim que me senti logo que sai de meu apartamento próprio, para ir morar em um alugado, bem menor do que o anterior. Na época ainda não estava sólida a opção pelo minimalismo, eu sentia realmente que estava dando “um passo para trás”.

Mas na minha jornada de terapia e autoconhecimento, logo foi aparecendo que eu estava cada vez mais leve, mais feliz, e foi quando me deu o “clique”, ter aquele patrimônio, um apartamento próprio, grande, não estava alinhado com meus valores, não era uma conquista que eu queria, era uma conquista que busquei porque todos valorizam, eu somente queria ser aceito, ser admirado, pertencer, não queria me sentir diferente, rejeitado.

Você, neste exato momento, deve estar lendo esta carta e já com seu pensamento se direcionando para situações semelhantes, percebendo o peso de manter coisas em sua vida, e este peso certamente decorre de que elas não são conquistas do seu eu verdadeiro, são somente troféus que você tem de ostentar para os outros, para se sentir valorizado, para pertencer e ser aceito.

E você sabe por que isso é assim?

Porque o nosso cérebro é assim, o não, a rejeição, é percebido pelo cérebro igual uma dor física efetivamente.

Quando recebemos um não, quando somos rejeitados, para nosso cérebro, é como se estivéssemos recebendo uma lesão física efetiva, não há uma segregação para o cérebro entre a dor física e a emocional, esta dói tanto quanto a outra.

Pesquisas em neurociência demonstram que a rejeição social ativa a mesma região cerebral envolvida na experiência da dor física.

Esse fenômeno sugere que, ao longo da evolução, nosso cérebro desenvolveu essa resposta como um mecanismo de sobrevivência. Nos primórdios da humanidade, ser rejeitado ou excluído do grupo social poderia ser fatal, já que a cooperação era vital para a sobrevivência.

Um estudo realizado por Ethan Kross na Universidade de Michigan utilizou ressonância magnética funcional (fMRI) para mostrar que o cérebro de uma pessoa rejeitada por um parceiro amoroso responde de maneira quase idêntica a quando essa pessoa experimenta dor física aguda. Essa sobreposição neural explica por que o “não” pode ser tão impactante e doloroso.

Exatamente por isso eu fui atrás do meu patrimônio, busquei comprar um apartamento grande que na verdade me trazia a sensação de um fardo, mas eu estava evitando a dor da rejeição, de não ser reconhecido por todos, pois o efeito manada diz que temos de ter nossa casa ou apartamento próprio, este é um sinal de conquista, e que te leva a ser admirado e aceito.

Quando você é diferente, pensa diferente, age diferente, e mostra isto aos outros, você começa a se expor à rejeição, e cada vez que ela vez, dói, como se seu corpo estivesse sendo efetivamente ferido.

Isso nos prende ao efeito manada.

Não é porque somos fracos, ou porque somos, como se diz popularmente “maria vai com as outras”, mas porque nosso cérebro está programado para ser assim.

A seleção natural manteve este comportamento, pois ele foi vital para a sobrevivência do homem.

Mas no mundo moderno, agir de forma diferente, não ser aceito pelo grupo, não necessariamente impacta nossa sobrevivência, mas nosso cérebro não sabe disso, e continua doendo muito um não, a rejeição.

Demorou para mim aceitar que não se tratava de “um passo atrás”, me reconheci a partir da ideia do minimalismo, mas vejam, ajudei meu cérebro, pois achei um movimento de pessoas que pensam assim, portanto, eu estava pertencendo, a um novo grupo, mas não se tratava de uma rejeição total.

O ambiente tem grande influência, percebem?

Sempre que você quiser mudar um comportamento chave na suia vida, vai ter de pensar muito bem em seu meio ambiente, pois se você fizer algo muito diferente do seu grupo próximo (família, amigos, colegas de trabalho), será rejeitado, e seu cérebro interpreta como dor, e quer evitar a dor.

O principal passo que posso ensinar, quanto a isso, foi algo que eu mesmo adotei, você precisa mudar seu ambiente, estar em contato com um grupo, com pessoas que aceitem o comportamento novo que você quer adotar, pois terá sensação de pertencimento, daí seu cérebro fica em paz, e te deixa em paz.

Pense, você quer deixar de beber, mas todos seus amigos só fazem festas e jantares com bebida, e ainda fazem chacota se você não bebe, a rejeição vai disparar o sistema de dor no seu cérebro, e fica difícil você manter o comportamento.

Fique atento a isso.

Você pode estar sofrendo por duas razões:

  1. Porque você está seguindo o efeito manada, e fazendo algo que viola seu eu interior, que não se alinha com os seus valores, e com o que você realmente quer; ou
  2. Porque você está procurando agir de forma diferente, ir contra o efeito manada, mas se sente rejeitado, e o sistema de dor é disparado em seu cérebro, te fazendo sofrer.

Entendeu?

A solução já tá no texto.

Saia do efeito manada para fique bem consigo mesmo, mas para isso busque se colocar em ambientes favoráveis, com pessoas que estejam alinhadas, para você buscar a sensação de pertencimento.

Agora você já sabe como funciona, vai lá e toma o controle da sua vida.

Fuja da manada, seja você!

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