Imortalidade na própria vida: o quilômetro três que me trouxe de volta ao Ironman.

O texto de hoje não tem pesquisa, não tem citações, não tem um tema formal.

Se trata de emoção.

O texto é simplesmente o meu coração falando diretamente com meus dedos que estão digitando no teclado. Espero que a mensagem saia do meu coração, e entre no seu.

Estou escrevendo a newsletter diária, mas muito bem poderia ser uma página do diário da minha vida, um registro e lembrete para mim mesmo, para me guiar nos dias bons, e me alertar nos dias ruins, como um “manual de vôo” para recorrer sempre que houver dúvida.

Logo cedo eu saí de carro até a orla, onde correria meu primeiro longo após recuperação de recente lesão do pé. Minha primeira corrida pós lesão foi ontem, bem curta, e hoje um pouco mais longa. Na verdade estou mais em período de “test drive” como meu treinador denominou, em observação ainda, para ver como o corpo vai responder a este retorno.

Mas deixando detalhes técnicos de lado, cheguei pela manhã na orla, pronto para cumprir com a missão de correr o treino designado para o dia.

E comecei a correr. Me sentindo bem, primeiras passadas, primeiros metros, primeiro quilômetro, sem dores, tudo indo bem.

Passado o segundo quilômetro, continuo atento a todas as sensações, tudo sob controle, uma pequena dor no pé oposto ao da lesão, mas também por uma natural compensação, mesmo inconsciente, de usar menos o pé esquerdo (recuperando da lesão) para não correr riscos. Checo a frequência cardíaca, tudo certo também.

Sigo correndo, com fone de ouvido, escutando música enquanto mantinha o foco nas minhas sensações, mas também aproveitando para apreciar o belo dia, e a felicidade de estar correndo na orla novamente.

Chega o terceiro quilômetro, e algo acontece…

Uma sensação vai se apossando de mim, pensamentos, emoções, corpo, todos passam a responder de forma “orquestrada” ao mesmo estímulo que chegou sem aviso…

Foi como uma descarga de energia por todo o corpo, a corrida tornada leve, quase sem percepção do impacto do pé no solo, as passadas aconteciam rapidamente, sem sensação de esforço. A mesma energia que tornava a corrida fácil e quase sem percepção de esforço, invadiu logo minha mente, enviando a mensagem do que estava acontecendo…tudo alinhado, corpo, mente, alma, todos queriam estar ali, e somente ali naquele instante, distorcendo inclusive a percepção do tempo, o que muitos psicólogos chamam de “flow”.

Sabe quando falam que as pessoas quando se apaixonam sentem “borboletas no estômago”, algo assim? Eu sei, é uma forma figurada somente de se falar aquela emoção que a paixão causa, aquela súbita energia.

Eu sei que não eram borboletas, mas posso dizer que a energia tinha a ver com paixão, amor, eu simplesmente estava conectado com o momento, sentindo uma felicidade indescritível, daqueles momentos que sentimos que o tempo pode parar, simplesmente parar, que poderia até ser a fotografia com moldura pendurada para sempre no melhor lugar da nossa sala.

Eu não conseguirei descrever mais, eu simplesmente estava feliz, não contente, alegre, realmente feliz, sentindo uma conexão e satisfação plena com a vida.

A felicidade, a emoção chegou a um patamar que não deixou passar as reações disponíveis em meu corpo, e fez meu olho se encher de lágrimas.

Eu queria na hora abrir a câmera e gravar um vídeo. Resolvi esperar o. final da corrida, mas ainda assim registrei o momento, correndo mesmo, através de uma foto com um largo sorriso. O momento tinha de ser eternizado.

Mas isso era somente o quilômetro três, portanto segui.

A felicidade se transformou em profunda gratidão. Pelo que? Por tudo, por estar vivo, por ser quem eu quero, viver a vida que sonho, praticar o esporte que amo, a lista da gratidão pode conter diversos itens.

Mas o principal do momento era simplesmente a gratidão por estar correndo.

Muitos podem pensar ser muito simplório o fato, uma forma até boba de sentir uma felicidade tão grande como a que descrevo.

Felicidade não precisa de fatos e eventos grandiosos. Não depende de riqueza. Não depende de grandes conquistas. Não depende de atos que mudam o mundo. Felicidade só precisa de gratidão e conexão.

Gratidão com o que? Com tudo que você vê para trás. As coisas boas, são evidente. E as coisas ruins? Elas te desafiaram de alguma forma, gerando um crescimento, para você ser quem você é.

E a conexão? Primeiro, conexão com você mesmo, você silenciar o mundo na sua volta e se conhecer, saber dos seus próprios sonhos, e se amar. Depois, conexão com o mundo, a natureza, tudo que está na sua volta, se conecte com o dia e noite, com os ciclos das estações, se conecte com a energia do sol, o barulho do mar, se conecte. Por fim, conexão com as pessoas na sua volta, ame quem pode amar, respeite aqueles que você não pode amar, mas se conecte com as pessoas no nível que for possível.

Os pensamentos ficaram rodando minha mente, e ao final da corrida, eu sabia que tinha de gravar o vídeo, tinha de registrar aquele momento.

Daí começam a surgir dúvidas. Mas como exatamente vou dizer isso? Vou parecer bobo. O que as pessoas vão dizer? Acho que o vídeo não vai ficar bom, eu poderia guardar esta ideia, fazer um roteiro, e a partir daí gravar um vídeo, outro dia. Estes pensamentos são aqueles que nos separam da felicidade que eu senti hoje no quilômetro três.

Sabe por que?

Não existe um momento perfeito, ele é agora. A vida não precisa ser roteirizada, ela tem que ser vivida. O que os outros vão dizer fala mais a respeito deles mesmo do que de você, a você cabe comunicar sua própria mensagem ao mundo.

Eu já guardei ideias. Guardei palavras. Escondi emoções. Todas estas atitudes me mantiveram distante de sensações como a que senti hoje.

Eu quero sentir muito mais da felicidade que tomou conta de todo meu corpo hoje. E quando eu percebo que ela depende de coisas muito simples, bastando estar presente e conectado, inserido em uma atividade na qual eu quero estar, na qual meu coração quer que eu esteja.

O que basicamente eu disse no vídeo? Trago brevemente os pontos, que transmitem minha emoção do dia.

Primeiro, não aceite nada da vida a não ser o máximo. Isso mesmo, não aceito pouco da vida, uma vida morna, fazer parte simplesmente. Faça com que a vida te dê o máximo, aproveite tudo, cada momento, cada interação, torne sua vida realmente incrível, você não merece nada menos que isso.

Eu me senti hoje assim, vivendo o máximo da vida, sentindo um daqueles poucos momentos que talvez vivamos em nossa existência de sentir que “os astros se alinharam”, a sensação de que está tudo no lugar certo.

Eu estava correndo, não podia estar em outro lugar, fazendo outra coisa.

E isso para mim teve um impacto maior, pois apesar de o triatlo ter realmente mudado minha vida, e eu ter me dedicado a este esporte nos últimos 5 anos, passei nos últimos meses por momentos de dúvida, de desconexão.

Nos últimos meses, encarando o início de novos projetos profissionais, questionei se o triatlo poderia ocupar o mesmo espaço da minha vida, talvez tivesse de reduzir a presença do esporte. O desalinhamento neste período culminou com a minha lesão, que sinto ser também uma decorrência de um desalinhamento geral, corpo, mente e alma não estavam mais juntos, havia uma disputa entre eles.

Mas aos poucos eu vinha retomando meu alinhamento, corpo, mente e alma estavam entrando em um acordo de novo, percebendo a importância e presença do esporte na minha vida.

E o momento da reunião novamente entre eles aconteceu hoje, no quilômetro três da minha corrida, através de toda descrição que já contei para você.

Eu estava feliz! Simplesmente feliz!

E logo eu sabia.

Estar correndo não era algo simples, para mim é muito mais.

O triatlo e o esporte me colocaram na vida que vivo hoje, com maior equilíbrio entre todas as áreas.

A felicidade na corrida de hoje foi a mensagem. Este é o meu lugar. Esta a vida que eu quero viver.

Eu já não tinha certeza se voltaria a fazer o Ironman, por toda demanda que exige, inclusive de tempo. Hoje eu soube, farei o Ironman de novo.

E seguindo o que disse no vídeo hoje. O ser humano se preocupa muito com a morte, pensando em uma sonhada imortalidade. A imortalidade é vencer a própria morte.

Mas que melhor maneira de vencer a morte do que tendo uma vida incrível? Aquela vida que você chega no fim, olha para trás e diz: “Caramba! Mas a minha vida foi demais, foi incrível, eu vivi plenamente o que queria viver, eu amei cada minuto da minha existência”.

Como eu disse.

Amor. Gratidão. Conexão.

Isto torna nossa vida incrível.

Valeu a pena!

A imortalidade reside em cada instante vivido assim.

Eu fui imortal no terceiro quilômetro hoje.

Seja imortal!

Share the Post:

Posts Relacionados

plugins premium WordPress
Rolar para cima