Nossa felicidade é moldada por nossa relação com o tempo.
Esta reflexão tem sido muito presente para mim, e hoje veio à tona ao conectar um fato histórico vivido no dia de hoje (13/20/2024), com uma série da Amazon Prime.
Vamos aos dados, depois às reflexões.
Primeiro, o fato histórico.
Hoje, o SpaceX realizou um feito impressionante. Pela primeira vez na história, a empresa conseguiu capturar o foguete Super Heavy usando a torre de captura conhecida como Mechazilla, durante o quinto voo de teste da espaçonave Starship. Esse é um passo significativo para alcançar a meta de um sistema de voo espacial totalmente reutilizável, essencial para futuras missões a Marte.
Após o lançamento bem-sucedido, o foguete Super Heavy completou várias manobras complexas, como a separação de estágios e a queima de retorno, antes de ser capturado com precisão pelos “braços” da torre de captura. Esse processo envolveu um rigoroso alinhamento de milhares de critérios técnicos, e foi um grande marco no avanço da tecnologia espacial reutilizável.
Esse sucesso traz a SpaceX mais perto de tornar as viagens interplanetárias uma realidade, com o objetivo de tornar a humanidade uma civilização multiplanetária.
Agora, a série da Amazon Prime.
A série intitulada “11.22.63”, uma adaptação do livro de Stephen King, e estrelada por James Franco. Na trama, Franco interpreta Jake Epping, um professor que descobre uma forma de viajar no tempo e tenta impedir o assassinato de John F. Kennedy em 22 de novembro de 1963. A série combina ficção científica com história, em um thriller de viagem no tempo.
Agora podemos avançar para a reflexão, pois vejo muito da relação do ser humano com o tempo, retratado nestes dois exemplos.
De um lado, temos um olhar lançado para o futuro, moldando o que poderemos viver, criando algo totalmente novo. Do outro lado, temos um olhar voltado ao passado, uma tentativa de mudar nossa condição atual a partir da reconstrução de fatos já ocorridos.
Você pode estar pensando. “Mas a série é pura ficção, não existe viagem no tempo, portanto, não temos de nos preocupar com isso, não vale a reflexão”.
Será mesmo?
Para além desta série em si, dado o número de histórias, livros, filmes, séries, com a temática de viagem no tempo, volta ao passado, vejo claramente uma curiosidade e obsessão do ser humano em tentar recriar o presente e o futuro reescrevendo o passado.
E você pensa que isto somente se encontra nas histórias de ficção?
Veja se você já não viveu alguma situação como essa. Você teve uma discussão com alguém, depois fica repassando a discussão na sua cabeça, se lamenta por não ter usado outro argumento, você fica revivendo a discussão, algumas vezes perde, outras vezes ganha, e isto segue ocupando seus pensamentos e moldando seus sentimentos e emoções, que pode ser um misto de raiva, culpa, ou outros ainda. Ou podemos pensar em outro exemplo, digamos que você jogou uma partida de basquete pelo time do colégio, uma partida decisiva, caiu na sua mão a bola para decidir o jogo, e você erro o arremesso, mas a partida não termina ali, aquele lance te atormenta, e você refaz a mesma jogada centenas, milhares de vezes em sua mente, corrigindo o que você acha que saiu errado, em muitas destas repetições você acerta, ganha o jogo, e sua vida parece diferente, mas o que acontece com seu eu do presente, sente raiva, culpa, frustração, se diminui, ou seja, esta “viagem no tempo” afeta você emocionalmente.
Percebeu agora?
O ser humano normalmente não vive em harmonia com seu passado, e fica “viajando no tempo” mentalmente, e tentando mudar o rumo do que aconteceu, ele não aceita como um aprendizado, tira a lição e dá o próximo passo, pelo menos não na maioria das vezes, fica preso em um “looping”, em um vai e vem, repetindo um mesmo fato.
Eu sei que o ponto já ficou claro.
Mas deixa eu avançar, para vermos como o ser humano se complica na sua relação com o tempo.
Quando falamos de felicidade e sua relação com o tempo, verificamos dois tipos de mentalidade e postura.
A primeira, das pessoas que vivem no presente mas querendo estar no futuro, porque tem uma visão de seu eu ideal no futuro, de onde ou como quer estar, das coisas que quer adquirir, e condiciona sua felicidade a conquistar estas coisas. Neste caso, as pessoas dizem que “precisam de algo” para ser feliz, sua felicidade está condicionada a necessidades. Vamos definir que estas são as pessoas que vivem no PREJUÍZO, pois elas enxergam o que não tem hoje, por isso olham para o futuro.
Agora vamos para um segundo tipo, as pessoas que vivem no presente de forma plena, gratos pelo que tem agora, pois olham para o passado, e reconhecem todo crescimento e conquistas que já tiveram, portanto, estas pessoas são felizes independente de conquistas futuras, pois elas reconhecem que já chegaram em um lugar desejado por elas. Mas neste caso as pessoas também tem um eu ideal no futuro e metas a perseguir, mas neste caso as pessoas dizem que “querem algo” para expandir sua felicidade, ser feliz não depende de qualquer condição. Vamos definir que estas pessoas vivem no LUCRO, pois elas focam no que já tem hoje, ao olhar para o passado e reconhecer o que já conquistaram.
Resumindo, os dois tipos e o ponto de sua visão, que define se são felizes agora ou se a felicidade está condicionada:
- PREJUÍZO. Visão no futuro. Tem necessidades para ser feliz.
- LUCRO. Visão para o passado. São gratos pelo que tem, portanto felizes. Querem atingir metas para expandir a felicidade.
Mas veja como a questão do tempo é confusa.
As pessoas do tipo PREJUÍZO, não são felizes por querer viver no futuro, chegar no seu ideal, mas por isso mesmo são prisioneiras do seu passado, pois estas não tem uma visão de gratidão em relação a ele, e normalmente se questionam que decisões e ações diferentes do seu passado poderia já ter as deixado mais próximas do seu eu futuro ideal. Este tipo vê o seu passado como um fardo que as trouxe ao presente, que não é o lugar onde querem viver, elas ficam repassando mentalmente seu passado, tentando ver onde erraram, sentindo culpa por decisões, frustradas por caminhos que tomaram. Este tipo ainda é escravo do futuro, pois fica constantemente condicionando sua felicidade ao momento que “chegar lá”.
Já as pessoas do tipo LUCRO, são felizes no presente, gratas ao reconhecer como o passado foi importante, reconhece os aprendizados que teve, que contribuíram para seu crescimento e evolução, a trazendo para o seu momento presente, que realmente apreciam. Este tipo vê seu passado como um dom que as trouxe ao presente, portanto, elas não ficam remoendo o passado, pois este está muito bem resolvido, mesmo os problemas e dificuldades já foram interpretados como aprendizados que geraram crescimento, portanto, este tipo está preparado para construir seu futuro, não precisam ficar olhando para o retrovisor.
Se pudermos fazer um resumo da relação de cada um deste tipo, com as três facetas do tempo, poderia ser o seguinte.
PREJUÍZO (felicidade condicionada ao futuro):
- Presos no passado.
- Suportando o presente.
- Escravos do futuro.
LUCRO (felicidade hoje):
- Gratos pelo passado.
- Amando o presente.
- Comprometidos com o futuro.
E qual a conexão destes tipos e suas relações com o tempo, com o foguete da SpaceX e a série da Amazon Prime?
Para mim a conexão é total, tanto que vi ambos hoje e me geraram o insight deste texto.
Vamos lá, vem comigo.
O que vemos na série “11.22.63”, adaptada ao livro de Stephen King? A ideia de que o presente poderia ser diferente, melhor, pela alteração de um fato passado, e que somente o ajuste de tudo isso poderia criar as condições ideias para se ir em direção a um futuro, este não poderia ser construído sem a devida reconstrução do passado.
Vê a relação com o tipo PREJUÍZO? O personagem claramente se vê preso no passado, suportando o presente e escravo do futuro.
Em “11/22/63”, de Stephen King, o protagonista Jake Epping se vê literalmente e emocionalmente preso ao passado, uma vez que descobre uma forma de viajar no tempo para 1958 com o objetivo de impedir o assassinato de John F. Kennedy. Logo no início da narrativa, King nos apresenta uma ideia central que se repete ao longo do livro: “O passado é obstinado. Ele não quer ser mudado” (“The past is obdurate. It doesn’t want to be changed”). Essa frase encapsula a resistência do passado a qualquer tentativa de alteração, tornando Jake prisioneiro das circunstâncias históricas que ele tenta modificar.
Isto é mais comum que imaginamos em nossas vidas, se você parar para refletir, pois ficamos fazendo aquela reprise de fatos passados, mas eles já ocorreram, não podemos mais alterar o que ocorreu, a única consequência é ficarmos prisioneiros deste passado, e muitas vezes, nossa visão de mundo passa a se dar a partir disto. Não mudamos o passado, mas passamos a agir no presente e futuro tentando mudar o passado. Como no exemplo que já trouxe, tentamos criar uma nova briga com a mesma pessoa, para agora “vencer a briga”, ou passamos a ver o mundo de. forma mais amarga, por decepções que tivemos, seguimos projetando no futuro todas nossas angústias do passado, o que faz com que ele permaneça sempre conosco definindo nossa vida e escolhas futuras.
Voltando à série, à medida que Jake vive no passado, sua existência no presente se torna apenas um estado temporário e incerto. Embora ele crie laços e tente se adaptar, sua verdadeira missão mantém seu foco no que está por vir. O presente é algo a ser suportado enquanto ele aguarda o momento em que poderá tentar mudar a história. King explora a ideia de que, por mais que Jake esteja fisicamente vivendo no passado, sua mente está sempre projetada no futuro, tornando o presente um limbo onde ele apenas espera para agir.
Isto também nos acontece, pois quando ficamos revivendo o passado, e reféns de um futuro que temos necessidade de alcançar, o presente é somente uma ante sala, uma sala de espera, um estado de suspensão da vida.
Por fim, King nos mostra como esse aprisionamento ao passado limita tanto o presente quanto o futuro de Jake. Suas tentativas de alterar o curso da história são repletas de consequências desastrosas. O conceito de que “não se pode consertar o passado” permeia a obra, e Jake descobre que suas ações, por mais bem-intencionadas que sejam, podem acabar destruindo mais do que salvando.
O passado se torna uma prisão emocional, limitando sua capacidade de viver plenamente o presente e comprometendo seu futuro.
Agora vamos ao outro lado, os feitos da SpaceX, e a figura por trás disso tudo, Elon Musk.
Aqui claramente não temos nenhum aprisionamento ao passado como na série.
Elon Musk fundou a SpaceX com um objetivo claro: “tornar a humanidade uma espécie multiplanetária”. Ele acredita firmemente que, para garantir a sobrevivência da humanidade, precisamos nos expandir além da Terra. O trabalho da SpaceX, especialmente com o desenvolvimento de foguetes reutilizáveis, tem o potencial de reduzir drasticamente os custos das viagens espaciais e facilitar a colonização de Marte, que Musk vê como um passo essencial para o futuro da espécie humana.
Veja que o olhar é claro de construção de um futuro, mas aquele olhar do tipo aspiracional, de algo que ele quer atingir, por razões relevantes, não se trata de necessidades futuras como condição de felicidade, muito longe disso. Aqui a relação com o tipo LUCRO é total, Elon Musk é grato pelo seu passado, ama o seu presente e é comprometido com o seu futuro.
Mas vamos adiante, adentrando um pouco mais nos pensamentos de Elon Musk, e a relação que queremos fazer entre sua mentalidade e as diferentes dimensões do tempo.
Elon Musk é um exemplo claro de alguém que aprende com o passado, vive intensamente o presente e está comprometido em moldar o futuro. Musk frequentemente reconhece que “os erros fazem parte do aprendizado” e que é fundamental constantemente avaliar as próprias decisões para ser “menos errado” ao longo do tempo.
Este é o tipo de mentalidade que nos faz olhar para o presente de forma plena, pois nossa visão se volta ao passado e consideramos o presente um lugar de crescimento e evolução, quando os erros passados não nos aprisionam, não queremos mudar nada, simplesmente aprendemos com ele e seguimos adiante. Aqui o presente empodera pois ele é o resultado de um passado que evolui, e chegou a um grau superior de maturidade e qualidade.
No presente, Musk vive com intensidade e compromisso. Ele aconselha que é preciso trabalhar incansavelmente para alcançar o sucesso, algo refletido em sua famosa frase: “Se as coisas não estão falhando, você não está inovando o suficiente”. Essa dedicação extrema ao que faz, mesmo com todas as dificuldades, demonstra sua paixão pelo momento presente e a vontade de fazer as coisas acontecerem, independentemente das probabilidades.
Esta postura é possível para quem tem a mentalidade do tipo LUCRO, pois o presente é vivido plenamente, não tentando se revirar e reviver o passado, não havendo culpa a ficar se carregando, somente um espaço de foco no trabalho presente, para expandir as conquistas e felicidade do momento presente.
Já sobre o futuro, ele é um otimista. Musk diz: “Se você acorda de manhã e acha que o futuro será melhor, é um bom dia. Caso contrário, não é”. Ele vê o futuro como algo cheio de potencial e inovação, acreditando que “as pessoas podem escolher ser extraordinárias”. Esse compromisso com o futuro está fortemente atrelado à sua visão de criar tecnologias disruptivas que possam impactar a humanidade positivamente, seja com carros elétricos, viagens espaciais ou inteligência artificial.
As pessoas do tipo LUCRO tem esta condição, pois não estão escravizadas pelo futuro, com a ideia que nele reside necessidades que devem alcançar para ser felizes, muito pelo contrário, a visão do futuro é de comprometimento, pois estas pessoas tem uma visão de um futuro ideal, que lhes brilha como o sol, somente indicando o caminho para onde devem caminhar para expandir sua vida, e com isso também contribuir com a vida de outros, pois este futuro é um ideal, um ponto onde se quer chegar por querer uma vida com mais significado.
Musk também molda o futuro com uma visão ampla: “Quero morrer em Marte, mas não no impacto”. Esse comentário encapsula sua ambição de ver a humanidade se tornar uma espécie multiplanetária, destacando sua determinação em fazer a diferença para o futuro da humanidade.
Retomo a frase de abertura de texto de hoje.
Nossa felicidade é moldada por nossa relação com o tempo.
Pense nos dois tipos que denominei de mentalidades PREJUÍZO ou LUCRO, e todas as suas relações com o tempo.
Mas para finalizar deixando claro o paradoxo.
Aqueles com a mentalidade PREJUÍZO, com a visão para o futuro, ao se medirem por ele, acabam vivendo sua vida pela falta, pelo que não tem, sendo infelizes, e portanto se voltam para o passado, para ficar revivendo ele, como se fosse possível através disto mudar a condição presente, pois eles não querem viver esta.
Os outros, com a mentalidade LUCRO, com a visão para o passado, ao se medirem por ele, acabam vivendo sua vida pela abundância, gratidão pelo que tem, e assim podem se voltar para o futuro de forma comprometida e apaixonada, somente para ampliar aquela felicidade que já reside neles.
Construir o futuro é mais sobre reconhecer o passado e amar o presente.
Comece seu futuro pelo hoje.