A busca pela felicidade sacrifica a felicidade.
Escrevi um post nas redes sociais, recentemente, com texto bem curto, mas que terminava com esta mensagem.
Trago para cá o post inteiro, que é bem curto.
A busca obsessiva por bens materiais tem como objetivo a felicidade.
As pessoas que não são vistas, querem ser vistas, querem ser amadas, e acreditam que a riqueza material lhe trará a admiração e amor, e portanto, felicidade.
Mas em uma jornada obsessiva por mais, muitas vezes se perde exatamente a admiração e amor daqueles que realmente importa.
A busca pela felicidade, sacrifica a felicidade.
Como não nos damos conta disso? Nos entregamos por inteiro a uma vida atribulada, cheia de ruído, que nos coloca dentro de uma rota de valorização de coisas acima de pessoas.
Inclusive tem aquela célebre ideia de que devemos usar as coisas e amar as pessoas, mas normalmente o que vemos é as pessoas usando umas às outras porque amam as coisas.
Não surpreende que as pessoas se sintam infelizes, ansiosas, estressadas, e sintam um vazio dentro de si, uma vida que parece sem propósito.
Uma vida que persegue coisas em detrimento de pessoas realmente não tem propósito nenhum.
Mas conforme o meu post, que trouxe acima, o mais incrível é que muitas vezes as pessoas entram nesta rota autodestrutiva movidas pela razào de serem felizes, admiradas e amadas.
E por que isso acontece?
Porque as pessoas tem muitas vozes dentro de si, e normalmente estas ficam ruminando pensamentos negativos e depreciativos sobre a própria pessoa.
Pensamos que não bastamos, simplesmente ser nós não é o suficiente, precisamos ter conquistas exteriores para ser amados e admirados.
Mas pare, pense.
Você não ama pessoas pelas coisas que tem, você pode é amar as coisas que ela tem, você quer ter aquelas coisas, estar no lugar dela.
E quando você é a pessoa que tem as coisas, que atingiu este sucesso na pontuação da sociedade, você não é amado por isso, as pessoas estão focadas no que você tem.
As pessoas esquecem de ser, focam no ter, pois acreditam que aquilo que conseguem ver materialmente é o que valida a ser amado.
O que valida alguém a ser amado é o que a pessoa realmente é, desvinculado do que tem.
Eu escrevi o post acima após ouvir um podcast de Mel Robbins com o neurocirurgião James Doty, que, por sinal, tem uma linda história de vida.
Eu ouvi o podcast e estou lendo o primeiro livro de James Doty, “Into the Magic Shop”, posso falar do livro em outra oportunidade.
Mas por ora, quero trazer um ponto central que ele traz.
James Doty enfatiza que, diferentemente de muitos animais, os seres humanos nascem em um estado de extrema vulnerabilidade, sem habilidades físicas e cognitivas completamente desenvolvidas. Essa condição gera uma dependência total dos pais para a sobrevivência e o desenvolvimento inicial, estimulando os adultos a cuidarem intensivamente de seus filhos.
Doty observa que o cérebro humano, particularmente nas fases iniciais, é moldável e “programável” — ele se adapta às experiências e interações que vivencia. Esse processo de desenvolvimento cerebral, chamado neuroplasticidade, depende das conexões emocionais e do apoio dos cuidadores. A liberação de ocitocina, tanto em bebês quanto em pais, fortalece o vínculo, promovendo comportamentos de proteção, empatia e carinho que são cruciais para o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças.
Para Doty, essa interação inicial — o ato de cuidar, proteger e ensinar — não é só essencial para a sobrevivência, mas também para o desenvolvimento de uma “inteligência emocional” que fundamenta a capacidade de compaixão, empatia e conexão que levamos para a vida adulta. Essa necessidade de cuidado reflete a interdependência natural dos seres humanos, destacando que nossa evolução favoreceu não apenas a sobrevivência individual, mas a construção de laços profundos e sustentáveis para toda a vida.
Doty nos traz, através da ciência de como corpo e cérebro funcionam, a fundamental importância de relacionamentos entre as pessoas, para serem felizes.
Mas vamos acrescentar ainda mais.
Há uma famosa pesquisa de Harvard, que acompanhou gerações de participantes ao longo de mais de 80 anos, que concluiu que o principal fator para uma vida feliz e saudável são os relacionamentos de qualidade. Em outras palavras, a felicidade e o bem-estar não estão atrelados a riqueza ou status, mas à profundidade dos vínculos que construímos ao longo da vida. Segundo o estudo, relacionamentos saudáveis ajudam a proteger nossa saúde mental e física, diminuem os efeitos do estresse e podem até prolongar a vida.
James Doty reforça essa ideia ao lembrar que nascemos em um estado de extrema vulnerabilidade, o que nos torna totalmente dependentes do cuidado dos outros para sobreviver. Esse vínculo inicial com nossos cuidadores molda o cérebro e o coração para buscar e valorizar conexões emocionais profundas. Doty sugere que a biologia humana, desde o início, nos programa para a conexão e a interdependência, o que, mais tarde, se traduz em relações que sustentam nossa saúde e felicidade.
Assim, tanto Doty quanto a pesquisa de Harvard apontam que o verdadeiro caminho para uma vida plena está na qualidade dos nossos laços humanos. Desde a infância, esses relacionamentos — fundamentados em empatia, compaixão e apoio mútuo — são o núcleo do nosso bem-estar, mostrando que a verdadeira realização está em quem escolhemos ter ao nosso lado.
Nosso corpo e cérebro estão programados para que sejamos felizes amando e sendo amados.
Fomos programados para amar as pessoas. Então parece evidente que somente deveríamos usar mesmo as coisas.
Amar coisas não tem efeito positivo real em nosso corpo. Ainda que consideremos a dopamina, que nos anima pela conquista, ela vem pela antecipação de uma recompensa, não por termos coisas em si, a dopamina pode nos colocar naquela rota interminável de sensação de que a felicidade nos espera na próxima conquista, a próxima casa, carro, viagem.
Depois desta “viagem científica” que corrobora o quanto o amor e as relações são fundamentais para a felicidade, retomo meu post, integralmente, para que seja relido em contraste com tudo que vimos aqui.
A busca obsessiva por bens materiais tem como objetivo a felicidade.
As pessoas que não são vistas, querem ser vistas, querem ser amadas, e acreditam que a riqueza material lhe trará a admiração e amor, e portanto, felicidade.
Mas em uma jornada obsessiva por mais, muitas vezes se perde exatamente a admiração e amor daqueles que realmente importa.
A busca pela felicidade, sacrifica a felicidade.
Vamos focar nas pessoas.
Focar no amor.
E o resto?
É só o resto.